Joana Carvalho
Começo por confessar que a personagem António Oliveira Salazar sempre me intrigou bastante, e sempre tentei alimentar esta minha necessidade de conhecimento acerca da sua pessoa, do seu governo, da sua paixão pelo nosso pequenino (em todos os sentidos) Portugal. Mas a verdade é que apenas este ano é que tive a oportunidade a apreender mais conhecimentos sobre esta peculiar personagem.
Por aquilo que depreeendi ( e espero ter depreendido correctamente), Salazar era um típico beirão, desconfiado, sorrateiro, de voz melíflua e falsa modéstia que, sempre que podia, apregoava aos quatro ventos. Bastou olhar à sua volta para perceber que poderia tomar conta do país e dos portugueses em dois tempos, desde que lhes alimentasse a vaidade, lhes satisfazesse os privilégios e lhes servisse uma qualquer doutrina legitimadora da ditadura e foi assim que rapidamente conquistou a reputação de homem íntegro que salvara as Finanças Públicas da bancarrota e propôs-se -modestamente e se o deixassem- salvar a Pátria, por acréscimo.
Mas, e mais tarde vir-se-ia a revelar, por debaixo da sua capa de humildade e de despojamento, esta personagem era vaidosa e muito ambiciosa. Quer dizer, o seu objectivo era simples e único: o PODER, o PODER para sempre (acabando por consegui-lo, pelo menos, até ao fim da sua vida). Também a sua filosofia era simples : tratar do nosso (grandioso) Portugal, sem olhar para o que se passava lá fora, de onde só poderiam vir más influências, enaltecendo duas palavras " orgulhosamente sós".
Assim, Salazar foi regulando, um a um, todos os sectores da vida dos portugueses: o trabalho, a religião, os tempos livres, os livros que se podia ler e as opiniões que se podia expressar. Sob o governo sábio deste ditador, as únicas preocupações que os portugueses deveriam ter era trabalhar e obedecer às leis do Estado.
Após esta " contextualização histórica salazarista" vou desvendar, então, a razão pela qual, no primeiro paragráfo desta " diz que é uma especíe de crónica", confesso que a personagem de Salazar sempre me intrigou. A verdade é que se trata mais de uma pergunta que coloco a mim própria : " Como é que Salazar conseguiu ocultar da maioria dos portugueses a sua verdadeira personalidade de Mussolini português ?"
Eu sei que a resposta será: " o povo necessitava de estabilidade governativa" ou " o povo era incrivelmente burro", mas a verdade é que os sinais, de que algo não estava correcto na personalidade e no governo de Salazar , eram mais do que evidentes...
Salazar era um homem sem esposa, sem amantes ( pelo menos conhecidas), " casado com a Pátria", sem filhos, sem amigos, sem irmãos próximos, sem vícios nem luxos nem fraquezas, que nunca ninguém vira comprar um livro ou quadro ou disco (incrível), ir à praia ou ao cinema, gostar de futebol, de jazz, ou mesmo de fado, que nunca viajara fora de Portugal nem sequer a Badajoz ( ainda mais incrível) , que nunca aceitara um confronto político... Como é que este tipo de homem inspira ADMIRAÇÃO e não REJEIÇÃO? CONFIANÇA e não DESCONFIANÇA?
E mais, se ao país era necessária a censura pois, segundo Salazar, " não é legítimo que se deturpem os factos para justificar ataques injustificados à obra do Governo, com prejuízo para os interesses do país. Seria o mesmo que reconhecer o direito à calúnia", à sua própria vaidade já era legitima alguma exposição?
Mas a triste verdade é que sem " aspirar a tanto" , o "simples professor que apenas deseja contribuir para a salvação do seu país" governou, durante mais de quarenta anos, Portugal e, apesar das suas " limitações de ordem moral" que a sua natureza lhe impunha, mandou perseguir, prender e exilar e fechou os olhos a que a sua política torturasse e até, em situações exremas, matasse os que se opuseram.
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